sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti

Sou meio lenta nessas coisas de manter esse espaço atualizado...tenho muitas coisas pra contar e muitas novidades e fotos pra mostrar, mas não agora. Hj vou dedicar minhas postagens aos haitianos, nas minhas pesquisas sobre tendências de moda achei esse texto no blog Rioetc e gostaria de dividir com o máximo de pessoas que conseguisse.

Se você acessou o RIOetc, provavelmente está atrás do estilo das ruas e de coisas inspiradoras pro seu dia. Afinal, uma das regras do blog é que a gente só dá notícia boa. Outra coisa: é incomum um texto escrito na primeira pessoa, porque este é um trabalho coletivo. Hoje vou quebrar essas duas regras.


Pra mim, esta noite foi mal dormida. Tinha visto imagens da destruição no Haiti e lido a mensagem que publico a seguir. Foi escrita pelo arquiteto Sérgio Magalhães, professor da FAU/UFRJ, doutor em Urbanismo, presidente do IAB/RJ e blogueiro – a quem orgulhosamente chamo de pai.
A convite da ONU, ele desenvolve (desenvolvia?) um trabalho urbanístico em Bel-Air, uma das áreas mais miseráveis de Porto Príncipe, a capital do Haiti, o país mais pobre das Américas. Esteve lá três vezes, e partiria pra sua quarta visita no mês que vem. Ou seja: conhecia bastante a realidade de lá. E esta mensagem, uma resposta ao e-mail de um colega arquiteto, é de um realismo atordoante.
Entre outras qualidades, meu pai é um otimista. Não fosse assim, ele não teria criado, há 15 anos, o Favela-Bairro, maior programa de recuperação de áreas degradadas de que se tem notícia. Mas na carta ele diz: “O que poderemos fazer para nos solidarizarmos com o povo do Haiti? Como ajudá-lo? (...) Eu não tenho respostas. Apenas, uma grande tristeza e o desejo de que possamos elaborar algo que possa ser útil.”
Eu também gostaria de poder ajudar. Resolvi publicar este texto aqui, quebrando as regras do nosso RIOetc e aproveitando sua audiência, porque foi a única coisa que me ocorreu. Quem tem fé, que faça uma prece; quem tem dinheiro de sobra, que doe; quem tiver alguma idéia melhor, compartilhe.
Daqui a pouco a gente volta pro nosso mundinho colorido e encantador, com mais fotos do Fashion Rio, conforme o prometido.

Abraços,
Tiago Petrik, editor do RIOetc




From: dirceutrindade@
To: sfmagalhaes@ 
Subject: TERREMOTO NO HAITI
Date: Wed, 13 Jan 2010 22:59:47 +0000

Olá, Sérgio.
Você, que conhece tão bem, pode nos dar uma visão desta tragédia no Haiti.
Pelas notícias, o país "acabou".......
Dirceu Trindade

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From: sfmagalhaes@ 
To: dirceutrindade@ 
Subject: Re: TERREMOTO NO HAITI
Date: Wed, 13 Jan 2010

Amigos, 

aproveito o pedido do Dirceu para comentar com vocês sobre a tragédia.
De fato, a cidade de Porto Príncipe deve estar destruída. Os principais edifícios estão no chão. E são eles que aparecem nas imagens da TV. Mas eles também, em geral, estão localizados nas áreas planas da cidade e são mais bem construídos. Imaginem o que terá acontecido com as áreas residenciais pobres, que são construídas nas encostas, tal como nossas favelas. 
Porto Príncipe tem mais de 2,5 milhões de habitantes. A imensa maioria não dispõe de água encanada. O abastecimento é por galões comprados em "quiosques". A disponibilidade é de menos de 10 litros/dia por pessoa (entre nós, calcula-se que a média de consumo seja 200 litros/dia). O lixo é recolhido muito precariamente. A energia elétrica é distribuida 1 ou 2 horas por dia. A ruas, em geral, não têm iluminação pública.
Isto tudo antes do terremoto.
O país está devastado. Sobrevoando, vê-se que o interior não tem cobertura vegetal, salvo pasto. Os córrregos/rios existem com chuva; sem chuva, ficam secos. Águas subterrâneas tendem a ser salobra. 
Uma reconstrução de Porto Príncipe precisaria contar com uma monumental ajuda internacional, bilhões de dólares, por muitos anos. E não vejo chance de ser bem sucedida se considerar a reconstrução do que foi destruído pelo terremoto: será necessário dar condições do país vir a se sustentar.
Como? São quase 10 milhões de haitianos!
Antes do terremoto, as instituições políticas eram frágeis. Todo o esforço da ONU era no sentido de dar consistência institucional para o país. Os símbolos institucionais eram sólidos: o Palácio Nacional, a Catedral, o Liceu Pétion, o Hotel Montana (sede da ONU). Agora, também estes símbolos estão no chão.
E eu que via as fotos que fiz em cada viagem como medida do avanço alcançado com o programa de recuperação do país! Percebia o avanço e ficava contente; mas via o lento avanço e sobrevinha a dúvida sobre a possibilidade de melhora efetiva. Jamais poderia supor que essas fotos, tão pungentes, reportando tanta pobreza e dificuldade, poderiam vir a ser documentos de um tempo superior!
O que poderemos fazer para nos solidarizarmos com o povo do Haiti? Como ajudá-lo? Há o agora e haverá o logo a seguir.
Eu não tenho respostas. Apenas, uma grande tristeza e o desejo de que possamos elaborar algo que possa ser útil.
Abraço,
Sérgio




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